A Wozen tem o prazer de apresentar o projecto O TEMPO DAS HUACAS, uma colaboração de Filipa Cordeiro e Rui Mourão que procura activar o diálogo em torno da exibição dos corpos mumificados de dois jovens Chancay no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa. Porque estão ali e não no lugar de repouso escolhido para si pelos seus? O que significa a continuada exposição de corpos indígenas num museu de arqueologia português, em 2018? Que relações ligam o dispositivo do “museu” ao colonialismo e aos seus efeitos nas mentalidades e sociedades de hoje?
No Peru chama-se "Huaca" a antigas sepulturas, múmias e lugares sagrados. Precisamente do Peru foram trazidos para o Museu Arqueológico do Carmo, no séc. XIX, uma coleção de artefactos, objetos sagrados e os dois corpos mumificados, de um rapaz e de uma rapariga. Preparados pelos seus para a eternidade, estão aprisionados em caixas de vidro como objectos de museu. O TEMPO DAS HUACAS, sendo um tempo para o que foi e para o que é, pretende restituir-lhes o que há de sagrado, ver no sagrado o que há de humano e dignificar a memória, as culturas, as pessoas.
O TEMPO DAS HUACAS engloba um screening de vídeos de cinco artistas sul-americanos que reivindicam a sua identidade enquanto indígenas. A partir de distintas geografias e culturas, acções performativas e momentos de partilha dão voz aos seus posicionamentos. A par da sessão de vídeos e de uma conversa, serão lançados um site e uma publicação que reúnem as perspectivas de cinco pensadores de referência e profissionais internacionais dos museus. Apontam alguns dos caminhos já trilhados no sentido da restituição de património cultural e restos mortais humanos cativos em museus a comunidades colonizadas no passado, bem como outras acções de reparação e reflexão no contexto museológico. Visam abrir uma maior complexidade de perspectivas nas narrativas construídas pelos museus.
O TEMPO DAS HUACAS propõe, em suma, um convite à escuta e ao exercício de um outro olhar, não musealizado, que possa encontrar-se com o mundo na sua complexidade e imprevisibilidade. Para tal, é necessário começar por reconhecer os desequilíbrios historicamente construídos que habitam o quotidiano, para então imaginar como podem ser tecidos novos modos de relação, dentro e fora dos museus.
Sessão de videoarte dos artistas:
Alberto Alvares | Denilson Baniwa | Ibã Huni Kuin | Jaider Esbell | Marilya Hinostroza
Lançamento de publicação e site com textos de:
Filipa Cordeiro e Rui Mourão (eds.) | Jacqueline Sarmiento | Nicholas Mirzoeff | Oscar Roldán-Alzate | Viv Golding | Winani Thebele