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Exposições

Exhibitions

 

A ERITAGE situa-se no centro da capital Portuguesa, em frente ao Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), o que nos inspira a criar um espaço experimental aberto ao diálogo transcultural em busca de novos formatos e processos criativos. Desta forma, desenvolvemos projectos artísticos que promovam experiências capazes de dissolver as fronteiras entre o artista e o público, entre a obra e o espectador, com propósito estimular uma nova percepção ética, de participação, coletividade, e mudança.

ERITAGE is located in the Portuguese capital, in front of MNAA (National Museum of Ancient Art), inspiring us to create a space open to intercultural dialogue in search of new formats and creative processes. Therefore, we develop artistic projects in order to promote experiences capable of dissolving the boundaries between the artist and the public, between the work and the spectator, with the purpose of stimulating a new ethical perception, of participation, collectivity, and change.

 
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17.11.2022 | No Teatro das Emoções by José Emídio (1956, Portugal)


  • ERITAGE 128 Rua das Janelas Verdes Lisboa, Lisboa, 1200-692 Portugal (map)

No Teatro das Emoções Exhibition | Image by Bruno Contin

No Teatro das Emoções Exhibition | Image by Bruno Contin

The portuguese artist José Emídio

The gallery opening of No Teatro das Emoções Exhibition

17.Nov.22 - 12.02.23 | No Teatro das Emoções

Exposição individual de José Emídio (1956, Matosinhos, Portugal)

(scroll down for english)

"Há um silêncio cómodo. Há a tentação de rasgar a serenidade do tempo presente. O tempo daquele instante. Com muito passado. Com pressa de encontrar futuro. Há um discurso amoroso do qual estão ausentes as palavras. Constroem-no as sonoridades adivinhadas numa profusão de instrumentos musicais. Não estão espalhados pelo espaço. São eles próprios a materialização de outros espaços. Mentais. Emocionais. Criadores de reminiscências singulares. Convocam-nos para a comunhão imaginária de sonoridades outras. Escorre naquelas paredes uma vertigem de saudade. Não é só pelas guitarras. Essas, acondicionadas no seu próprio silêncio, tocam apenas o olhar. Ajudam a construir cenários. Transformam-se em involuntário motivo para uma qualquer narrativa. Como o tambor posto ao penduro. Como a miríade de objetos retirados de múltiplos quotidianos e ali disponíveis para a encenação de uma nova caminhada, de um novo percurso pictórico.   

Há uma tocante polifonia cromática encontrada nas telas a óleo, [nos tapetes] e nas cerâmicas. O sensível tratamento dos azuis, os envolventes castanhos, ou mesmo os diferentes tons de verde, se assumem eles próprios como elementos cruciais à estrutura narrativa, constituem fragmentos de uma cornucópia de discursos dos quais não está nunca ausente a delicada aproximação a um irresistível lirismo poético que tanto o aproxima de Chagall.  

José Emídio na construção de uma voz que, sem ignorar as vozes outras, não abdica de construir o seu próprio timbre para as suas próprias melodias. 

Não obstante a sua pequenez, as figuras são cruciais na representação do espaço e das atmosferas. Podem ser guerreiros antigos, monges, prostitutas, faunos, velhos, beldades impudicas, jovens, personagens circenses. É todo um catálogo de referências ao qual Emídio recorre. À medida que cada um entra em cena, há uma nova porta a abrir-se.

Se as palavras valem pelo que significam, não há espaço para qualquer inocência na utilização de um termo muito recorrente e associado a obra de José Emídio: a memória. E da memória, como bem sabemos, está ausente toda e qualquer materialidade. A memória é o que fica dos sorrisos, dos afetos, dos amores, dos desamores, das viagens, das fainas, das aventuras, das brincadeiras, das lendas temidas como verdades inteiras, da ideia de um dia termos sido o que jamais voltaremos a ser.

No espaço das suas narrativas desenvolve-se uma continuada necessidade de decifrar os mistérios do quotidiano, tantas vezes fonte primeira de busca e reflexão a partir da qual se constrói o corpus da sua obra.

O regresso às raízes consubstanciado nesta mostra adquire uma simbologia próxima da imagem proporcionada pela metáfora contida na poeira das estrelas. Ao peregrinarem em direção à eternidade, sugam pelo caminho todas as memórias passíveis de nos definirem enquanto indivíduos únicos e irrepetíveis. Há momentos em que uma exposição não é apenas uma exposição. É antes uma emocionada e comovente viagem ao teatro das emoções gerado a partir das partículas contidas no rasto deixado por toda uma vida acondicionada em momentos, instantes feitos retrato de fragmentos, retalhos do que somos e do que nos fez ser como somos.

Esse é o tempo feito memorial, onde se projetam momentos, circunstâncias, pessoas, factos. Só no futuro temos consciência da importância do presente, entretanto feito já passado. Um passado do qual não abdicamos, se dele se derrama o presente que hoje nos conforta." - texto curatorial Valdemar cruz

Tapete Voador I - Óleo sobre sarapilheira, 200x300cm | Image by Felipe Cantieri

No Teatro das Emoções Exhibition | Image by Bruno Contin


In the Theatre of Emotions

Solo exhibition by José Emídio (1956, Matosinhos, Portugal)

"There is a comfortable silence. There is the temptation to tear apart the serenity of the present time. The time of that instant. With a lot of past. In a hurry to find future. There is a lover’s discourse in which words are absent. It is built from the sonorities guessed in a profusion of musical instruments. They are not scattered in space. They are themselves the materialization of other spaces. Mental spaces. Emotional spaces. Which create unique recollections. They invite us to an imaginary communion of other sonorities. A vertiginous longing flows in those walls. Not only through the guitars. These, conditioned in their own silence, merely touch upon the eye. They help build scenarios. They become an involuntary reason for any narration. Like the hanging drum. Like the myriad of objects taken from multiple everyday moments and available there for the staging of a new walk, of a new pictorial path.

There is a touching chromatic polyphony found in oil canvases, [carpets], and ceramics. The sensitive processing of blues, the immersive browns, or even the different shades of green, become themselves crucial elements of the narrative structure, they constitute fragments of a cornucopia of speeches from which the delicate approach to an irresistible poetic lyrism that brings him so close to Chagall is never absent.

José Emídio in building a voice that, without ignoring other voices, does not renounce to build his own timbre for his own melodies.

Despite their smallness, figures are crucial in the representation of space and atmospheres. They can be ancient warriors, monks, prostitutes, fauns, old men, impudent beauties, young people, circus characters. It is a whole catalogue of references to which Emídio resorts to. They are like friends who are always there and with whom it is possible to start a dialogue, especially when there seems to be no subject for a conversation. They are there. As each enters the scene, there is a new door opening.

If words are worth for what they mean, there is no room for any innocence in the use of a very recurrent term associated with José Emídio’s work: memory. The memory is what remains of smiles, affections, loves, disaffections, travels, caresses, adventures, legends feared as whole truths, and the idea of having been one day what we will never be again.

A continuing need to decipher the mysteries in everyday life, so often the first source of search and reflection from which the corpus of his work is built, is developed in the space of his narratives.

The return to the roots embodied in this exhibition acquires a symbology close to the image provided by the metaphor contained in the stardust. As it wanders towards eternity, it sucks in on its way all the memories that can define us as unique and unrepeatable individuals. There are times where an exhibition is not just an exhibition, but rather an emotional and touching journey to the theater of emotions generated by the particles contained in the trail left by a lifetime conditioned by moments, instants turned into portraits of fragments, scraps of what we are and what made us to be as we are.

This is time turned into memorial, where moments, circumstances, persons and facts are projected. In it only in the future that we are aware of the importance of the present, which has already become passed. A past which we do not abdicate, when the present that comfort us today spills out from it.” – Curatorial text by Valdemar Cruz

Tapete Voador II - Óleo sobre sarapilheira, 200x300cm | Image by Felipe Cantieri

The gallery opening of No Teatro das Emoções Exhibition

José Emídio | photo: Egídio Santos

José Emídio é hoje um nome incontornável das artes plásticas nacionais, com obra espalhada por todo o país e exposições realizadas em vários pontos do território nacional e também no estrangeiro. Nascido em 1956, em Matosinhos, José Emídio é licenciado em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes do Porto desde 1981. Foi professor efetivo no Ensino Secundário entre 1979 e 2000, e professor no Curso Superior de Desenho na Escola de Belas Artes do Porto, de 1982 a 1997. Atualmente é Presidente da direção da Árvore - Cooperativa de Atividades Artísticas, espaço onde também lecionou e do qual é membro desde 1989.

Desde 1976 que desenvolve a atividade de pintor, integrando exposições coletivas e individuais em Portugal e no estrangeiro, com destaque para as diversas participações nas Bienais de Vila Nova de Cerveira e Vila Nova de Gaia. A sua primeira exposição individual acontece em 1982 em Matosinhos, sua cidade natal. José Emídio expôs individualmente em espaços privados e públicos, com destaque para a grande exposição antológica “Voltar” em 2016 na GaleriaMunicipal de Matosinhos sobre as quatro décadas de trabalho em pintura.

Ainda enquanto artista plástico, também colaborou em diversas publicações literárias, com reprodução de trabalhos seus na área da ilustração – com destaque para “100 Fábulas de La Fontaine”, edição Campo das Letras, com 100 ilustrações do autor e Álbum “S. João” com litografias de José Rodrigues, Jorge Pinheiro e José Emídio e textos de Eugénio de Andrade,Mário Cláudio e António Pina (Edição Cooperativa Árvore para a Câmara Municipal do Porto).

José Emídio tem ainda desenvolvido trabalho nas tecnologias da cerâmica, com particular destaque na criação de painéis que integram vários espaços públicos em Portugal, como o conjunto de painéis “Histórias de Matosinhos”, bem como na tecnologia do vitral e ainda na obra gráfica, gravura, litografia e serigrafia.

A sua obra artística tem conquistado a admiração de nomes grandes de outras áreas da cultura, como o escritor Mário Cláudio: “Solar como poucas, a paisagem de alma que José Emídio atravessa, e de que nos dá conta nestes instantes da sua pintura, recupera um locus amoenus que o crescente globalismo não cessa de rasurar”. Também o poeta Manuel António Pina escreveu sobre um quadro de José Emídio: A pintura, infatigável criança, / colhe com longos dedos materiais/ o que da infância, por ser de mais,/ a própria infância não alcança.

No Teatro das Emoções Exhibition | Image by Bruno Contin

The gallery opening of No Teatro das Emoções Exhibition

Maçã Vermelha and Gárgula - 43x33cm, 2022

The gallery opening of No Teatro das Emoções Exhibition

Earlier Event: September 15
15.09 | MATRIZES EM TRAMA