18.03.2023 | Submersos by Maria Lynch
(scroll down for english)
No trabalho de Maria Lynch cruzam-se diferentes disciplinas artísticas que correspondem, aparentemente, a uma prática desenvolvida por soluções formais e cromáticas canónicas, como a pintura, o desenho e a escultura.
A superfície do suporte, no âmbito da pintura e do desenho, constitui-se como um plano bidimensional de um universo auto-referencial, por vezes próximo de uma escrita visual biográfica, que parece manifestar uma certa inquietação e compulsão no acto de fazer: desenhar e pintar. Esta compulsão não deriva de um processo excessivo em termos da quantidade da obra produzida, mas das qualidades plásticas e visuais que a artista persegue num procedimento pautado por uma métrica diarística, como se cada exposição fosse um capítulo de um diário iniciado há muito tempo e sobre o qual não saberemos nunca quando, e se, vai ser interrompido.
Na presente exposição, sob o título genérico “Submersos”, Maria Lynch expõe uma nova série de trabalhos em pintura e desenho. As pinturas, de grande e médio formato, são como ecrãs negros que revelam e simultaneamente ocultam formas inventadas que se relacionam com imagens e fragmentos de cidades, ou objectos estruturais trabalhados com uma paleta cromática muito económica e equilibrada.
Procurar um tema ou uma referência pode ser uma tarefa sem sucesso, dado que estas obras tendem a manifestar uma tendência mais abstractizante e indefinida, aparentemente direccionada para a geografia da folha de papel ou do formato da tela.
Contudo, algumas formas, e aqui o desenho é absolutamente estrutural, parecem rememorar elementos antropomórficos e formas/contentores, cujo tratamento pictórico nos situa perante uma memória da casa e da sua vivência. E, em alguns casos próximos de uma arquitectura imaginária e ficcional, como uma possibilidade de revelação de desejos ou emoções, vividos ou sentidos num lugar utópico e, assim, sem correspondência com qualquer narrativa referenciável. O título da exposição,
“Submersos”, é também um jogo que a artista desenvolve a partir da linguagem, no sentido em que esta palavra indica o que está sob a textura negra, mais do que uma pele, da superfície pintada.
Um livro publicado em 2016, no Rio de Janeiro, Brasil, acompanha esta exposição e apresenta uma ampla leitura sobre a obra de Maria Lynch. Deixo aqui uma nota final sobre dois desenhos impressos na página 35 desse livro, intitulados “Machinery 1 e 2”, de 2008. Talvez o desenho seja na obra desta artista uma corrente submersa que se põe perante nós, na pintura, na escultura e, é claro, nos desenhos.
Curadoria: João Silvério
drawings in painting
Maria Lynch’s work comprises a number of art forms, such as painting, drawing and sculpture, which are seemingly associated to a practice that develops through canonic formal and chromatic solutions.
The surface of the support, in the context of her painting and drawing, is a two-dimensional plane of a self-referential universe, sometimes akin to a sort of biographic visual writing, which appears to manifest a certain restlessness and compulsion in the act of creation: drawing and painting. That compulsion is not the result of a process that is excessive in terms of the quantity of work produced; its excess is found in the plastic and visual qualities that the artist pursues in an approach marked by a diaristic metric, as if each exhibition was a chapter in a journal that began long ago, and which we will never know for sure when, or if, it will be interrupted.
Maria Lynch’s drawings are very important to our understanding of her work, regardless of whatever exhibition of hers we have before us, featuring paintings, sculptures or drawings from any given point of her career. They are a sort of statement of the memory of her hand, and thus of her emotional and referential universe. One of the essential features of Maria Lynch’s work is, I think, a pathos that inscribes into her pieces a poetical stimulus for the viewer, be that person a visitor of one of her exhibitions, or simply someone looking at one of her works, in her studio or elsewhere. That often occurs in her austere drawings, their clear lines connecting and reconnecting certain shapes that appear to float on or sink into the surface of paper. In this succession of (sometimes near-invisible) micro-events, the viewer’s time plays a crucial role in the enjoyment of her work: both in her paintings and her drawings, the artist carries out a process of revelation and concealment that materialises itself in organic, sometimes even visceral ways.
In this exhibition, titled “Submersos” [Submerged], Maria Lynch presents a new series of paintings and drawings. The paintings, in large and medium formats, are like black screens that reveal and simultaneously conceal invented forms that are evocative of images and fragments of cities, or structural elements wrought with a very frugal and balanced chromatic palette. Searching for a theme or reference may prove a fruitless endeavour, given that these pieces tend to display a more abstract and undefined approach, apparently directed at the geography of the paper or the canvas format. However, certain shapes (and drawing plays an absolutely structural role here) seem evocative of anthropomorphic elements and container-like forms, whose pictorial treatment offers us a memory of the house and its experience. And, in some instances that suggest imaginary, fictional architectures, a possibility to reveal desires or emotions that were experienced or sensed in a place that is Utopian, and thus has no connection with any referable narrative.
The exhibition’s title, “Submersos”, contains a play on language by the artist, since the word “submerged” refers to what lies beneath the thick black texture of the painted surface. At times, the various shapes and lines are fully covered by the black areas; at others, they can still be visible through them; or they can hint at a previous shape that we know is still there, a trace of something submerged we will never be able to access. But we feel its presence, and thus the aforementioned logic of the drawing develops a new dimension, as both a source of that memory of the hand and a reflection on her own work. It is as if the artist is conducting a survey on herself, whose results she shares with others, presenting her language through a diversity of meanings that are close to us, sometimes even intimately so, but which we can only find within the sphere of the artistic process.
A book, published in 2016, in Rio de Janeiro, Brazil, accompanies this exhibition; it contains a wide-ranging study on Maria Lynch’s oeuvre. As an end note, I would like to mention two drawings, reproduced on page 35 of that book, “Machinery 1 and 2” (2008). Perhaps drawing, in this artist’s work, is like a submerged current that manifests before us in her paintings, her sculptures and, of course, her drawings.
João Silvério
About the Artist:
Maria Lynch
Maria lynch é uma artista multidisciplinar nascida em 1981 no Rio de Janeiro, Brasil. Formada pela Chelsea College of Art and Design, Londres, onde concluiu pós- graduação e mestrado em 2008.
Entre suas principais exposições estão, ‘The JerwoodDrawing Prize’ com itinerância por Londres e outras cidades da Inglaterra, 2008. ‘Nova Arte Nova’ no CCBB, RJ e São Paulo, 2008. Ganhou o Prêmio Funarte de Artes Plásticas Marcantônio Vilaça, participou da exposição Performance Presente Futuro Vol III, Oi Futuro, RJ. Em 2011 foi artista convidada para a 6º Bienal de Curitiba VentoSul e em 2012 foi convidada para expor no Paço Imperial a Instalação Ocupação Macia RJ e para a Residência artística Bordalo Pinheiro em Lisboa, Portugal. Foi também convidada para expor nas Olimpíadas de Londres, 2012 no Barbican. Em 2014 fez residenciaartística na RU em Nova Iorque, e no mesmo ano ganhou um prêmio do Consulado do Brasil nos EUA para fazer a exposição individual com a instalação; Ocupaçao Macia no Festival Ideas City do New Museum. Em 2016 fez a exposiçao individual Spaces and Spectacle na Wilding Cran Gallery em Los Angeles. Em 2017 fez a individual no Oi Futuro entitulada Máquina Devir. Em 2018 fez a exposição Black Over White, selecionada pela Pacific Standart Point na galeria Wilding Cran Gallery LA, USA. Participou de algumas exposições, como a Coleção de Mulheres do Museu de Arte do Rio - MAR. Em 2019 fez a exposição individual Talisma na Baró galeria e a residencia Wozenem Lisboa e em 2022 participou da coletiva Fayenzas na galeria Caja Negra em Madrid, Espanha.
Maria Lynch faz parte de importantes coleções públicas e privadas. Destacam-se: Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP, Brasil - Coleção Ihotim, acervo, MG, Brasil - MAR, Museo de Arte do Rio de Janerio, Brasil- Coleção Gilberto Chateubriand/MAM-RJ, Rio de janeiro, Brasil - Museu de Arte Contemporanea Niterói, Brasil - Committee for Olympic Fine Arts 2012 , London, UK - Ministério das Relações Exteriores, Palácio do Itamaraty, DF, Brasil - Centro Cultural Candido Mendes, Rio de Janeiro, Brasil – BGA, Golden Arts Investments, Brasil.
We are located in the neighborhood of Santos by the MNAA Lisboa.